Um blogue criado a pensar em todos aqueles que, assim como eu, foram vítimas de stalking. Um espaço de discussão sobre o tema, que pretende esclarecer e influenciar os legisladores nacionais.
Vivi uma situação de stalking há muito tempo e desde então preservo a minha privacidade ainda mais. Por vezes recrimino-me por não ser mais cautelosa. Numa ocasião fui apresentar queixa a uma esquadra onde tive de facultar todos os meus elementos. Fui atendida por um policial que começou a ser inconveniente, fazendo muitas perguntas pessoais, entre as quais se tinha namorado. Queria saber se vivia sozinha, se tinha cão, gato, periquito ou canário… foi estranho. Repetiu várias vezes que ia jantar comigo a minha casa nessa noite. Depois dizia que estava só a brincar e que eu não o devia levar a sério. Fiquei uma hora ou mais a ser atendida por aquela autoridade e estávamos sozinhos naquele espaço. Os outros policiais tinham abandonado o posto, talvez para jantar. A determinada altura desta conversa interminável, ele começa a contar que tem um amigo com um computador com uma câmara em cima, e que gosta de o visitar umas duas vezes por semana, para verem mulheres. “O computador até pode estar desligado que ele continua a apanhar tudo. Vê-se elas a despirem-se no quarto, mulheres casadas, que não sabem que estão a ser filmadas, a trocar de roupa e não sabem de nada, nem desconfiam” – diz este policial, usando mais ou menos esta ordem de palavras, num momento em que eu me interrogo se ele percebe a gravidade daquilo que me está a relatar. Não quero entrar em mais detalhes nem tão pouco quero que o indivíduo se reconheça e puxe dos dados pessoais que ficaram na base de dados, os quais ele frisou poder consultar para entrar em contacto. Nem ainda estou convencida se, de facto, o teor da conversa que tive com esta figura de autoridade teve realmente uma intenção dúbia por detrás ou se o indivíduo foi apenas inconveniente sem ter intenção de o ser. Mas ainda assim tentei acautelar-me. Tinha um gravador de bolso comigo, para qualquer eventualidade, e aquela aparentava vir a ser uma. Quando finalmente apareceram os colegas, fiz questão de mencionar em voz alta os auto-convites para jantar em minha casa. Esperei que um policial chegasse perto da mesa, olhei para o nome na farda, para saber quem devia apontar como possível testemunha de alguma coisa. É como disse: cautela nunca é demais e uma pessoa que já viveu o stalking até pode ver «fantasmas» com facilidade, mas não creio que seja isso. A verdade é que saí dali com aquela história do voyerismo na cabeça. Espantada por vir de parte de quem vem, mas nem por isso surpreendida.
Cheguei a casa e tapei de imediato a pequena câmara que vem incorporada em todos os computadores portáteis. Já andava a achar estranho a luz se ligar quando em modo de descanso e depois de escutar esta história a ser contada casualmente por um policial, decididamente que a ia inutilizar desta forma.
Com este relato quero apenas realçar o quanto a TECNOLOGIA pode já estar a ser utilizada para nos espiar. Daqui ao stalking é um passo curto. Hoje em dia ainda me censuro por utilizar a internet e outros gadjets que facilitam muito a vida, mas também nos tornam vulneráveis e expostos. Tenho Facebook mas uso um pseudónimo. Jamais colocaria o meu nome verdadeiro, não me parece sensato. Também não publico fotografias minhas nem de ninguém. Abri uma excepção uma vez, influenciada por amigos, tentei não ligar mas arrependi-me e depois apaguei-as. Fiquei receosa e não nos expormos gratuitamente faz-nos sentir mais seguros, preservados e protegidos. A nós e também aos nossos, é importante frisar isto. Por um acaso encontrei há muito pouco tempo no Face a identidade do meu stalker. Se eu o encontrei, ele também me pode encontrar. Caso eu facultasse algum dado que pudesse me ligar ao nosso passado, coisa que não faço. Mas fiquei a interrogar-me se não andaria ele a ver se eu lhe caía na “rede”, através daquelas questões de preenchimento automático sobre antigos locais frequentados…
Toda a cautela é pouca e um pouco de «paranóia» não sei se fará mal. Mas sei que o que faz realmente falta é GARANTIAS de segurança. Devia-se facultar formação sobre segurança online, indicar programas para combater hackers e ensinar como ter um computador pessoal bem protegido.
Desculpe o relato pouco sintético e um tanto paralelo ao tema, mas acho que o complementa. Parabéns pela divulgação e pelo espaço que permite a partilha.